terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Técnica cirúrgica facilita remoção de pele de quem perdeu muito peso



Aos 29 anos, Adriana Bernardes peregrinava pelo Hospital Federal do Andaraí em busca de um médico que aceitasse operá-la. Ela havia perdido 78 quilos, dos 156 que pesava, em menos de um ano e meio, depois de fazer uma cirurgia bariátrica. Sofria agora com o excesso de pele acumulado na barriga, nos braços, nas costas. O médico Carlos Del Piño Roxo topou o desafio.
Mas em vez de fazer a cirurgia tradicional, inventou um novo método, a abdominoplastia multifuncional. De lá para cá, passaram-se dez anos e Roxo e sua equipe criaram outras três técnicas; publicaram dez artigos em revistas científicas; 150 pessoas foram operadas no hospital, 395 no total. E o Andaraí se tornou referência para cirurgia plástica reparadora após grandes perdas de peso.
Ao operar Adriana, Roxo não fez o corte tradicional - uma incisão circunferencial, que provocava o descolamento dos tecidos e forte sangramento. Ele imaginou uma técnica em que somente a pele e gordura que estavam sobrando seriam extraídas. Fez um desenho no corpo da paciente, e arrancou sob pressão essa pele em excesso. Ao juntar as bordas, modelou o abdome, o dorso, a cintura, o púbis e o terço superior das pernas.
'Antes, levantava-se toda a barriga e se prendia a pele em um gancho no teto, e o médico vinha cortando. Tinha muito sangramento, era preciso fazer transfusão de sangue. Eu bolei um desenho que você faz com o paciente em pé e eu determino, antes da cirurgia, tudo o que vou tirar.' A nova técnica reduziu à metade o tempo de operação, diminuiu as intercorrências, como necroses e rompimento da sutura, dispensa a transfusão de sangue e o resultado final é melhor.
Esse tipo de cirurgia corrige um problema que surgiu com as operações bariátricas. Ao perder peso rapidamente, o ex-obeso sofre com o excesso de pele, que não 'encolhe' no ritmo do emagrecimento. Na barriga, essa pele cai como se fosse um avental, cobre a púbis e alcança a coxa, em casos mais extremos.
Adriana sofria desse problema. Após a segunda gravidez, ela viu o ponteiro da balança saltar de 110 para 156 quilos em três anos. Tinha 28 anos quando fez a bariátrica, no Hospital do Andaraí. 'Perdi todo aquele peso, mas continuava difícil me locomover, não tem roupa que sirva. Para subir uma escada era uma dificuldade, não conseguia cruzar a perna. E, por mais higiênica que você seja, fica um mau cheiro, porque você sua muito', conta.
Adriana diz que a plástica foi o 'divisor de águas' na sua vida. 'Eu pude cruzar as pernas, comprar uma calça jeans. Aos 30 anos, eu estava magra. Fiz concurso público e comecei a trabalhar. A plástica me devolveu para o mundo', conta.
Inclusão. Após operar Adriana, Roxo procurou os outros 19 pacientes que fizeram a bariátrica pelo Andaraí. Repetiu a abdominoplastia multifuncional, com bom resultado, em todos. Então, ampliou a cirurgia - testou a técnica nos braços, nas coxas, e passou a operar simultaneamente essas áreas.

'Não é cirurgia de estética; o que se faz é cirurgia de inclusão social. As pessoas voltam ao convívio dos amigos. Elas não apenas podem se vestir, como se sentem seguras para se despir', afirma o médico.
Avanços. Com o avanço da cirurgia bariátrica, que passou a ser feita por videolaparoscopia, deixando apenas duas pequenas cicatrizes, Roxo passou a operar pela técnica do body lifting - faz duas incisões paralelas na barriga e nas costas para retirar o excesso de pele. A experiência no Andaraí e a publicação dos artigos fez Roxo ser convidado para apresentar a técnica em outros Estados e no exterior. Ele já deu aulas práticas no Canadá, Espanha, Portugal e China.

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