Com a chegada do verão, os índios guaranis da aldeia Tekoá Mboy-ty (Aldeia de Sementes), que ocupam Camboinhas desde abril de 2008, encontraram uma fonte de renda um tanto controversa: nos dias de maior movimento na praia, eles transformam parte da restinga em estacionamento rotativo. Os motoristas que não encontram vagas nas ruas do bairro estacionam dentro dos limites da aldeia, mediante pagamento de R$ 10.
Moradores e frequentadores do bairro, no entanto, questionam a prática, já que a própria tribo alega que o terreno é um sambaqui, uma espécie de cemitério indígena considerado sagrado. A área, inclusive, foi ocupada pela tribo para que fosse preservada.
— Os índios resolveram explorar o território “sagrado” como estacionamento e permitem a entrada de carros numa área verde onde os carros não tinham acesso anteriormente — relata a moradora Luiza Cavalieri.
Os indígenas não admitem a cobrança do estacionamento, alegando que apenas deixam alguns amigos pararem seus veículos num trecho que não seria sagrado. Em troca, os visitantes deixariam uma gorjeta pelo favor prestado.
Questionada sobre uma placa com a inscrição “Estacionamento R$ 10” que estava dentro da oca principal, a índia Lídia Nunes, de 68 anos, desconversou.
— Deixamos alguns amigos estacionarem de vez em quando, mas aquele pedaço não é sagrado. Na área sagrada não pode — afirma Lídia, mãe do cacique Darci Tupã, que está ausente da aldeia.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou desconhecer a prática de cobrança de estacionamento feita pelos índios de Camboinhas. Reconhece, porém, que, embora não sejam regulamentadas, atividades turísticas são comuns em áreas indígenas, ressaltando que não existe ainda confirmação de que aquela área seja um sambaqui.
“Existe demanda para realização de estudo de identificação e delimitação para comprovar se a área é indígena, mas não consta no planejamento de 2012”, acrescenta a Funai, em nota.
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) confirmou que a restinga é área de reserva, mas não confirmou se o estacionamento é proibido.
A Sociedade Pró-Preservação Urbanística e Ecológica de Camboinhas (Soprecam) também confirmou que já recebeu denúncias sobre a cobrança de estacionamento por parte dos índios, mas ressalta que o caso da ocupação corre na Justiça. Até agora, a única decisão judicial divulgada limita o número de índios na aldeia em 38. Contudo, em 2010, a comunidade já contava com 66 habitantes.
Fonte: http://oglobo.globo.com/niteroi/em-camboinhas-estacionar-em-solo-sagrado-custa-10-3876406
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